terça-feira, abril 23, 2024
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Evento internacional de empreendedorismo feminino movimenta R$ 20 milhões

Evento_rsO Women Vendors Exhibition, evento internacional de empreendedorismo feminino organizado pelo International Trade Center (ITC) e Apex-Brasil que aconteceu pela primeira vez no Brasil, e trouxe cerca de 300 empresárias de 42 países em desenvolvimento para negociar com investidores.

Desse total, 59 eram cafeicultoras das principais regiões produtoras do grão no mundo: Etiópia, Guatemala,além de África do Sul, Congo, Uganda, Peru, entre outros. As mulheres brasileiras também participaram.

O encontro aconteceu nos dias 2 e 3 de setembro, e as rodadas de negócios business to business (entre empresas), finalizadas na terça-feira (8/9), somaram US$ 20 milhões – US$ 3 milhões movimentados pelas cafeicultoras e investidores – e US$ 4 milhões em comida gourmet.

Na programação também havia workshops com especialistas de diversos setores, que davam lições de marketing e como negociar seu produto.

O resultado da iniciativa foi positivo. “Estamos muito entusiasmados com estes números. A superação do nosso objetivo inicial indica que estamos no caminho certo: é preciso estabelecer medidas para que as empresas lideradas por mulheres possam se encontrar e fazer negócios”, afirma o presidente da Apex-Brasil, David Barioni, que esteve no primeiro dia do evento, o Trailzblazers Summit, discutindo políticas públicas internacionais de incentivo para inserção econômica das mulheres.

Mulheres do café

Na abertura, mulheres de diversos países deram depoimentos emocionantes, motivadores e também dicas de negócios às executivas presentes.

O evento foi criado para dar voz às empresárias, muitas delas donas de casa que tiveram que empreender para garantir o sustento da família, mesmo enfrentando a oposição de seus companheiros e familiares.

Na região do Norte Pioneiro do Paraná (PR), há um grupo de 250 mulheres que produzem café. Segundo a cafeicultora Mirian Klas Rothert, o machismo ainda é forte na região. “Uma das mulheres que trabalham conosco brigou com o marido, que se sentiu ofendido por ela tomar frente da fazenda e ajudar nas despesas da casa. Ele acabou indo embora”.

O preconceito também é sentido pela nova geração cafeeira. “A mulher do campo é muito desassistida, mas não vejo mais como uma barreira. Hoje acaba tendo mais respeito. Lidamos muito com cooperativas, tem mesmo muito homem (na cadeia do café), mas acho que já consegui plantar meu pé na área. Tenho visto que existe machismo, sim, mas depende mais de você e do seu trabalho. É possível conviver tranquilamente”, relata Ilana Bastos, do Café Helena, sediado em Dourado (SP).

Na empresa que a jovem empreendedora trabalha, contratar mulheres virou uma opção. Elas estão presentes em todo o processo, desde o plantio até a torrefação.

Ilana afirma que acreditar na capacidade feminina traz resultados. “Uma das vezes que me emocionei bastante foi com uma catadora de café, que contratávamos apenas na época de colheita, mas depois foi efetivada. Ela disse que, pela primeira vez, estava ajudando no orçamento de casa, com trabalho e dinheiro, respeitada pelos filhos e marido. Então, todo o trabalho que se faz com mulheres tem esse retorno, e vale muito a pena”.

A medida influenciou até o slogan da marca, que é “toque feminino na tradição”.

Entre as palestrantes do Women Vendors estava Anna Illy, membro do conselho diretor da Illy Café e a responsável por visitar pessoalmente os fornecedores nas fazendas.

Ela afirma que nunca sentiu preconceito por ser mulher no agronegócio, mas que antes, o sexo feminino no campo era restrito às atividades doméstica, mas que essa realidade está mudando. “Nunca senti preconceito no agronegócio por ser mulher. Sempre viajava para as fazendas, era a única mulher visitando tecnicamente. Ou seja, tinha mulheres, mas na cozinha fazendo almoço. Hoje tem mais mulheres produzindo café, no Brasil e em outros países. É uma coisa apaixonante porque dá pra perceber a paixão da mulher para fazer as coisas bem feitas, com qualidade”, conta.

Anna faz parte da terceira geração da Illy Café, fundada pelo avô, e é a única mulher. “Somos quatro irmãos: três homens e uma mulher, ou seja, sou a única mulher dessa terceira geração. E é bem difícil!”, conta rindo. Porém, a quarta geração, que se prepara para assumir os negócios, é diferente: são nove pessoas, um homem e nove mulheres. De minoria para maioria.

Para as mulheres que querem empreender no agronegócio, Anna acredita que tem espaço. “Todas têm oportunidade de trabalhar em qualquer lugar: agronegócio, engenharia, tecnologia. As mulheres, com a paixão e determinação que têm, podem empreender. Se tiverem esses sentimentos, podem ter o que quiser”.

O trabalho árduo no campo ajuda a desconstruir mitos gerais sobre mulheres. Ilana, que cuida das vendas e distribuição do Café Helena, afirma que para muitos, ainda reina o conceito retrógrado de que mulher não sabe negociar, e que para combater esse preconceito, o caminho é o estudo e a autoestima. “Se quer entrar no setor, estude. Aprenda, vá atrás de cursos, do Sebrae, em cooperativas. Garanta autoconfiança e prove que mulher consegue, sim, realizar bons negócios. Por sermos mulheres muitas vezes precisamos nos provar mais, então por que não nos prepararmos? Quando se tem um conhecimento, ninguém te desafia, sendo mulher ou homem”, finaliza a executiva.

Fonte: Revista Globo Rural

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